sábado, fevereiro 03, 2007

cidadania

Ah, que bobagem essa coisa de cidadania que é gritada aos quatro ventos por toda a população. Porque levou a filha pra votar, então é cidadão. Porque doou coisinhas pro asilo, então é cidadão. Porque não jogou lixo no chão, então é cidadão. E ainda tem a melhor prática que todo cidadão devia fazer: a de reclamar pro SAC ou no PROCON. Ah, quanta bobagem!
É valido ressaltar que exemplificar o que é cidadania em práticas como essas, é minimizar demais tal conceito correndo o risco de misturá-lo com interesses individualistas e consumistas. E ser cidadão não significa eleger tais interesses como prioritários. A própria idéia de cidadão está intimamente relacionada à idéia de vida em sociedade, num espaço por onde circulam os interesses de todos, inclusive os diferentes. Poderíamos dizer, até, interesses do todo. Coletivo.
Acho que nesse momento podemos nos perguntar (1.) Quantos habitantes, no Brasil, são cidadãos? (2.) Quantos nem se quer sabem que não o são? O simples fato de nascer numa sociedade já dá ao individuo uma herança moral fortíssima, pela qual o mundo será filtrado, e uma gama de direitos, abstratos ou de fato, como direito a um teto, à comida, à educação, à saúde, à proteção contra o frio, à chuva, as intempéries; direito ao trabalho, à justiça, à liberdade e a uma existência mínima. É muito bonito o discurso gritado pelas otoridades nos quatro cantos do mundo.
Mas de fato estamos longe disso. O que realmente ocorre é que a cidadania se aprende. É isso mesmo. É um estado psíquico e social. Psíquico porque cada um sabe – está inerente a sua capacidade de pensar e agir como pessoa – seus direitos e, além disso, por onde caminhar para reclamar a falta de cidadania. E social, pois o implacável cotidiano e o lugar onde cada pessoa vive (acorda, mora, convive, troca idéia, discute, briga) é que deixará mais fácil (ou não) a percepção do que é ser cidadão.
A cidadania deve ser discutida por gerações até que se chegue a um estado cultural. Nesse momento todos saberão os caminhos legais para que uma reivindicação atinja o estado de lei. E, mais ainda, que essa lei deve incorporar mecanismos para que ela própria atue. Sem brechas. Precisamos de juízes não corruptos e que tomem suas decisões baseadas apenas na verdade e na justiça.


Tem mais coisa. Sempre tem.

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